Sítio do Judas era uma localidade tão pequena, mas tão pequena que a cidade a qual pertencia nem cidade era, ainda.
Lá cresceu Marilda, menina bonita das pernas grossas, cintura fina e olho azul, o que praquelas bandas era um dote e tanto. Filha da costureira Zefinha, foi educada com esmero para casar com um bom partido e arrumar a vida da família toda, que já não era sem tempo. Marilda freqüentava a missa dominical e participava da festa da cana, no município vizinho, um encanto aquela menina.
Vai que uma coisa leva a outra e Seu Mardonho, próspero comerciante da redondeza botou o olho na menina e decidiu que aquela era dele, de mais ninguém.
Com treze, se ele não se apressasse, um moleque riquinho logo, logo, iria inaugurar aquela formosura das coxas roliças...Ah, aquelas coxas, Madonho babava emocionado, antecipando tamanha alegria.
Teve um namoro relâmpago, sob a vigilância ferrenha de Zefinha que sabia que o melhor da filha era ser imaculada. Quando noivaram, ela deu uma folga, colocou-se por detrás da meia parede de madeira velha, sentada num banquinho, esperando a hora de carregar na tosse e avisar que era hora do velho Mardonho ir-se para não deixar que as coisas esquentassem tanto.
Ouvia um vuco-vuco, um estalos de beijos e quase caiu do banco quando a filha perguntou ao noivo:
-Ô Seu Mardonho, o que o sinhô comeu hoje?
O velho levantou-se insultado, como assim? Ela estaria reclamando do seu bafo? Deu um pontapé na porta de ripa e saiu, batendo os cascos.
-Mas minha filha, como ‘ocê’ faz uma coisa dessa, o que ‘ocê’ acha que um homem desse podia de ter comido?
E ela, candidamente:
-Merda, mãe, merda...
Depois de um tempo remendou-se a situação e Marilda foi para o altar de véu, grinalda e flor de laranjeira. Mardonho puxava Zefinha pinçando-lhe a clavícula. A esmirrada costureira já sabia o que iria ouvir:
-Então, Dona Zefinha, a senhora me garante que a menina é novinha, virgem-virgem?
-Mas claro, seu Mardonho, ela nunca nem viu um....o sinhô sabe o quê.
-Ela que se prepare que hoje vai ver ‘a senhora sabe o quê deeste tamanho’ e mais algumas coisas.
A costureira achou melhor preparar a filha e iniciou aquele diálogo que as mães inventam para constranger as filhas.Disse que era dever da esposa ceder ao marido e nunca se queixar de dor de cabeça. Achou que cumprira a obrigação.
Depois das núpcias, os dois mal ficaram na festa que corria no terreiro e foram para a hospedaria, onde um quarto os esperava com o que foi possível arranjar naquelas plagas.
Lá pelas tantas, o velho Mardonho começou a sussurrar o ouvido da jovem esposa:
-Marildinha, meu amor, é hoje que você vai me dar esse seu tesouro, não é?
Ela assentia com a cabeça.
-Você vai deixar eu abrir seu tesouro, minha flor, vai, vai?
E ela balançava a cabeça.
Começou o vuco-vuco, o Mardonho arfava e nada. Marildinha, impaciente levantou o lençol e disse de soslaio:
-Ih, seu Mardonho, com essa chavinha o sinhô vai abrir meu cadeado é nunca !
Dizem que seu Mardonho ficou muito brabo uns tempos e depois foi amansando.Ficou tão manso que ia na alcova da mulherzinha uma vez ou outra, isso quando Zecão, um peão que tratava do gado bom não estava por lá. Dizem...(veracascaes@gmail.com)
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